terça-feira, 18 de agosto de 2015

Quem se Lembra do Pati?

Que frequentador do Cine Argus não se lembra de Joaquim Sena, mais conhecido como Pati? O porteiro-zelador-lanterninha de poucas palavras que botou muito muleque travesso pra fora do cinema de Seu Duca?

Joaquim Sena (Pati), em frente ao Cine Argus (1991)

Eu mesmo deixei de assistir meu primeiro filme pornô no Cine Argus por medo do Pati. Voltando do Cônego Leitão, onde eu fazia o ensino médio, fui ver os cartazes como de costume e percebi que o cinema estava aberto, sem ninguém na portaria. Adentrei o saguão, abri a cortina e fiquei extasiado com aquela cena... Um homem e uma mulher, semi-nus, a beira de um riacho... Eles se beijavam e ele apertava a bunda dela. A vontade foi de correr pra dentro do cinema e assistir o resto da cena, mas o medo do Pati foi maior que minha excitação... E eu fui embora... Até hoje me arrependo!

O jeito sério e carrancudo não impedia que as pessoas tivessem carinho por ele. Era preciso alguém que botasse ordem no espaço, que garantisse o mínimo de sossego para as exibições. O próprio Seu Duca fazia isso e muito bem. Por mais que infringissem algumas normas, a garotada respeitava, pois entendia a importância da disciplina. E o falar pouco e complicado do Pati e seu jeito às vezes rude não impediu que o povo o amasse. O povo amava o Cine Argus. O Pati cuidava e amava o Cine Argus. O povo amava o Pati. Cine Argus e Pati: uma coisa parecia ligada a outra. Como Carlos Moreno (aquele ator magro e careca que víamos nos comerciais dos anos 80) e o Bombril. 

Joaquim Sena, nosso querido Pati, me recebeu em sua casa, e de forma muito descontraída lembrou dos "muleques perversos" que furavam a fila do cinema e que hoje já estão na terceira idade. Lembrou do show de calouros do Capiti e dos truques de mágica que fazia (e fez algumas performances para nossa filmagem!) e, claro, lembrou de Seu Duca, do capricho com que cuidava do Cine Argus, da gratidão a Deus pela ótima bilheteria de todos os anos de "A Vida de Cristo" e da simplicidade que mantinha, trabalhando no meio de seus empregados como se fosse um deles. 

Com problemas graves de audição, para entrevistá-lo foi preciso escrever as perguntas em um caderno e ir lhe mostrando. Mas, isso não impediu que sua entrevista fosse uma das mais ricas e animadas do filme. Sem dúvida, uma participação mais que especial, que emociona a todos que assistem o filme e que há muito tempo não via essa figura tão emblemática e até mesmo folclórica que ele se tornou.

Por Edivaldo Moura.

Joaquim Sena (Pati) em Memórias do Cine Argus (2014)

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